09/02/2011 07h43 - Atualizado em 09/02/2011 08h01 Povo pressiona pelo 16º dia no Egito, e governo promete transição real Governo faz concessões à oposição, que pede saída imediata de Mubarak. Vice-presidente e negociador afirmou temer golpe de estado.

Milhares de pessoas amanheceram na Praça Tahrir, no centro do Cairo, nesta quarta-feira (9), e iniciaram o 16º dia da revolta popular que exige a renúncia imediata do presidente Hosni Mubarak.
Ao mesmo tempo, o governo insistiu em que está comprometido com uma transição real de poder no país conflagrado.
"Não se cansem, não se cansem. A liberdade ainda não foi alcançada", gritava um militante em um alto-falante, em meio às barracas instaladas pelos manifestantes no centro da praça.
Um dia depois da maior manifestação da revolta popular iniciada em 25 de janeiro, muitos manifestantes dormiram ao redor dos tanques do Exército posicionados nos acessos da praça para impedir uma eventual retirada.
Os manifestantes temem que uma saída dos blindados tenha por consequência ataques dos grupos pró-Mubarak ou uma tentativa de esvaziar a praça à força.
Transição
O Egito deve discutir as "orientações" políticas do futuro chefe de Estado, afirmou em entrevista  o vice-presidente Omar Suleiman, encarregado de negociar com os oposicionistas.
Manifestantes acampados próximo a tanques na Praça Tahrir, no Cairo, nesta quarta-feira (9) (Foto: AP)Manifestantes acampados próximo a tanques na Praça Tahrir, no Cairo, nesta quarta-feira (9) (Foto: AP)
"O presidente Mubarak é favorável a uma verdadeira transferência do poder, não há nenhum problema", disse Suleiman em um encontro com jornalistas da imprensa oficial.
Pressionado, Mubarak anunciou que não vai ser candidato a um sexto mandato nas eleições de setembro.
"Mas é preciso pensar no futuro do Egito, e em quem vai conduzir o país para o futuro, não a pessoa, e sim suas qualificações e orientações políticas", afirmou, em uma provável mensagem aos jovens e à Irmandade Muçulmana.
Ele disse temer que, se a transição não for feita com cuidado, o país pode sofrer um golpe de estado.
Concessões
O governo do Egito libertou 34 presos políticos nesta terça, informou a agência de notícias estatal. São os primeiros libertados desde que Mubarak começou a prometer reformas.
O governo vem fazendo uma série de concessões à oposição, mas elas estão sendo recebidas com ceticismo pelos diversos grupos, que insistem na saída imediata de Mubarak.
Em Washington, o secretário de Defesa dos EUA, Robert Gates, fez um elogio ao processo de reformas no mundo árabe - iniciado no mês passado com uma rebelião que derrubou o governo da Tunísia.
Manifestantes protestam na Praça Tahrir nesta terça-feira (8) (Foto: AP)Manifestantes protestam na Praça Tahrir nesta terça-feira (8) (Foto: AP)
Reformas constitucionais
O presidente Mubarak criou uma comissão para reformar a Constituição, anunciou também na terça o vice-presidente Suleiman.
Suleiman também afirmou que o Egito tem um plano e um cronograma para a transferência pacífica de poder.
Ele reiterou que o governo não perseguirá os manifestantes que pedem a queda do presidente.
"O presidente recebeu bem o consenso nacional, confirmando que estamos colocando nossos pés no caminho certo para sairmos da crise atual", disse o vice na TV estatal após encontro com Mubarak.
Na segunda, o governo havia anunciado um aumento de 15% nos salários do funcionalismo e nas aposentadorias. O novo gabinete ministerial -em sua primeira reunião completa- prometeu investigar casos de fraude eleitoral e corrupção no serviço público.
mapa do egito com dados (Foto: Editoria de Arte / G1)Dados do Egito (Foto: Editoria de Arte / G1)
O ministro das Finanças, Samir Radwan, disse que os aumentos vão custar US$ 960 milhões e vão valer a partir de abril, para mais de 6 milhões de pessoas.
No passado, o funcionalismo público foi um dos pilares de sustentação do regime, mas ele ficou minado por conta das recentes crises financeiras.
O governo e as forças armadas tentavam fazer o país, o mais populoso do mundo árabe, a voltar ao trabalho.
Os bancos reabriram no domingo, e a Bolsa de Valores deve reabrir no próximo dia 13.
Com alguns egípcios ansiosos por um retorno à normalidade, o governo alertou sobre os danos à estabilidade econômica e à economia que vão decorrer do prolongamento dos protestos, que abalaram o Oriente Médio e abriram um novo capítulo na história moderna do Egito.
Várias empresas estrangeiras que haviam interrompido suas atividades voltavam a funcionar no país.

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